29 de agosto de 2016

Ansiedades

Todas as nossas emoções e sensações têm um objectivo e uma funcionalidade. Se pensarmos na raiva (não na raiva cega), ela pode ser o motor que nos leva a fazer algo, que nos impele ao movimento. A tristeza permite a expressão de algo difícil e a sua mobilização para fora de nós, e a ansiedade e o medo também tem funções muito importantes.

Ao longo do tempo fomos afastando a ideia de que o ser humano é um animal e como tal, cortámos com a percepção daquilo que não é racional e renegamos o que é entendido como impulsos, intuições ou sensações primitivas. Mas somos animais, e o que me tem ajudado muito a perceber o corpo humano, é ter esta informação bem presente.

Vamos imaginar uma gazela. Esta gazela está na savana a comer a sua ervinha de uma forma tranquila mas presente, ou seja, está alerta ao que a rodeia. O seu batimento cardíaco é normal e é o sistema para-simpático que está a trabalhar. Repentinamente surge uma ameaça, há um leão por perto. A gazela dispara, o batimento cardíaco sobe e é o sistema simpático que toma a dianteira, promovendo a reacção de fuga. Quando a ameaça desaparece, assim desaparece o medo e a ansiedade, o batimento cardíaco diminui e a gazela volta calmamente ao seu pasto. Este é o movimento natural entre ficar ansioso e relaxar. O medo e ansiedade têm então esta funcionalidade: manter o alerta para potenciais ameaças e reagir perante elas.

Então qual a ligação para o homem? O grande problema do homem permanentemente ansioso é que não consegue parar de correr a fugir de um leão que só existe na sua cabeça. Há um botão que está sempre ou quase sempre ligado (consciente ou inconscientemente) e que o faz estar ansioso: com um batimento cardíaco mais acelerado, dores de barriga e, em casos mais graves, uma inabilidade tremenda em funcionar.

Texto de Ana Caeiro, Psicoterapeuta Corporal em Biossíntese
(ana.caeiro@mail.com)
Foto: Milada Vigerova, unsplash.com

22 de agosto de 2016

Studycare - o novo espaço da Sintricare!

Atualmente, a Escola é o centro da vida das crianças, se tudo correr bem… criam amizades, relacionam-se de forma harmoniosa com todos, aprendem, motivam-se, investem, aceitam desafios e são felizes.


Mas nem sempre é assim … quando não se sentem incluídos, quando se sentem perdidos, quando têm dificuldades na aprendizagem que não conseguem ultrapassar, quando são impulsivos, desorganizados… surge a frustração, o desinvestimento, a baixa auto-estima…


Não é fácil para os pais darem resposta a todas as exigências do dia-a-dia e não é por não quererem, é porque não conseguem, e assistirem ao desinvestimento dos filhos, aos altos e baixos e ainda, gerirem os seus sentimentos… é difícil e complexo! Surge o sofrimento e muitas questões: Quem está a errar? Como poderemos ajudar mais? Onde está o caminho?

O projeto da SINTRICARE aposta num novo conceito de Sala de Estudo – Sala de Apoio Psicopedagógico, um lugar que pretende desenvolver um Espaço Integrado entre Pais, Alunos e Escola. Acreditamos que num ambiente acolhedor, desenvolvendo a consciência e a co-responsabilidade, com tutoria e orientação, aprender poderá ser uma fonte de bem-estar que se refletirá na família.

Com a Tutoria Pedagógica pretende-se orientar o aluno, identificando em primeiro lugar as necessidades ou dificuldades no processo educativo e posteriormente construir em conjunto quais as melhores estratégias para que melhore o seu desempenho.

A tutoria será realizada duas vezes por semana, com supervisão de cadernos, sumários, perceber quais as dificuldades, agendar as tarefas e disponibilizar tempo para a partilha das dificuldades… e assim orientar otimizando o estudo.

Será comunicado semanalmente à família, via correio eletrónico a informação sobre a semana decorrida. As reuniões entre as partes acontecerão sempre que sejam solicitadas. A comunicação com a escola será realizada sempre que for necessária, com a devida autorização dos pais.





Ao Trabalhar a Consciência/ Responsabilidade/Autonomia desejamos:
  • Que possam ganhar gosto pelas aprendizagens através das várias formas de aprender: com vivências, experiências, cooperação e pesquisas na internet ou em enciclopédias/livros.
  • Que desenvolvam ou reforcem o saber estudar em autonomia, com e sem supervisão.
  • Que amadureçam a tomar decisões e a assumir compromissos.
  • Que percebam as consequências dos seus atos, trabalhando com base na responsabilização, sendo assinado um contrato de compromisso, que terá as suas recompensas e penalizações.

O Espaço está organizado para que possam ter as ferramentas necessárias e para que sejam estudantes bem-sucedidos, assim teremos:

  • O seu local de estudo será personalizado, com fichas e programa de trabalho diário. 
  • O reforço das aprendizagens será realizado na Escola Virtual - Numa época em que a tecnologia é aplicada a tantas vertentes da vida, é também um facilitador para o estudo, vamos aproveitá-la.


  • Será elaborado por nós e sempre que necessário um programa de Reabilitação Cognitiva – Cogweb (poderemos chamar-lhe uma ginástica para o cérebro), para que sejam reabilitadas as áreas mais fracas (atenção, perceção, memória, etc), que devem realizar diariamente desde que tenham à disposição internet.


  • Teremos o canto da leitura e um lugar para experiências. 
  • Acesso a livros e enciclopédias para pesquisa. 
  • Copa para lanches e espaço para relaxar… 
  • Poderão realizar os trabalhos de grupo com os colegas numa mesa redonda desde que avisem com a devida antecedência.

A nossa Sala de Apoio Psicopedagógico receberá no máximo de 10 a 12 jovens no total, para que lhes seja proporcionado um acompanhamento de qualidadeSerão valorizados o empenho, a perseverança, a atitude… e estes refletir-se-ão nos resultados escolares. Aos pais é-lhes pedido que completem a monitorização realizada por nós e ponham em prática o combinado. Solicitamos que tenham o seu próprio computador ou tablet, é imprescindível para a aprendizagem neste nosso conceito.
  
Estamos empenhados para que este seja uma Sala de Apoio Psicopedagógico que reflita um ambiente que se assemelhe ao que a família desejaria proporcionar aos seus filhos, dando apoio individualizado, contudo preparando-o para que consiga caminhar sozinho, num ambiente seguro onde lhes é proporcionado as condições logísticas para que possam ser estudantes de sucesso.
Funcionaremos com uma Inscrição de 50 euros e a Mensalidade será de 120 euros, com tudo incluído e podem usufruir do espaço das 9 horas às 19 horas de 2ª a 6ª feira. (Se houver necessidade de explicações terão que ser solicitadas a professores especializados e o seu pagamento será à parte.)
Como cada jovem e a sua família são únicos e especiais para nós, marque uma reunião e teremos muito gosto em esclarecer as suas dúvidas!


Responsável:
Cristina Santos
Ordem Psicólogos Portugueses cédula nº 7127
Com a especialidade de Psicóloga Clínica e da Saúde
Psicóloga Educacional

Psicoterapeuta Especializada em Crianças e Jovens
http://www.sintricare.com.pt (em remodelação)

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Rua Ulysses Alves, nº 6 – 1º andar
Sintra (junto à praça) Vamos abrir na loja por debaixo das nossas instalações atuais.
Tel. 219107733 – 918701892

16 de agosto de 2016

A decisão de ter um filho

A Mãe carrega um filho dentro de si durante nove meses e mais uns pozinhos. Depois de nascerem, os filhos continuam a ser carregados durante uma vida. Não é necessariamente mais fácil, nem mais leve. Os pesos são diferentes e as formas de pesar também. Em alguns casos há um Pai presente que compõe a tríade e completa esta balança, permitindo que o aumento da carga seja motivo de alegria e contemplação, mas também de receios e contendas. A questão é que as famílias não são as mesmas de quando eramos nós os filhos pequenos, e quanto mais para trás andamos, maiores as diferenças que podemos encontrar.
 
A vida corre rápida. Também as mudanças entre gerações são cada vez mais rápidas e disruptivas. Quantas vezes pensamos e comentamos: quando tinha a idade do meu filho não existiam telemóveis, computadores… E os nossos pais dizem-nos que na altura deles não havia televisão, o homem ainda não tinha ido à Lua e havia fome de comida e de nutrição. Os tempos mudam e os relógios voam.
Muitas coisas se tornaram mais simples, desde o acompanhamento dos partos às fraldas descartáveis. 
 
Mas será que a decisão de ter um filho também se tornou mais simples? Em 2014, a taxa de natalidade[1] era, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística, de 7.9‰. Para estabelecermos uma pequena comparação, em 1981 era quase o dobro: 15.4‰. Esta permilagem refere basicamente quantos bebés nascem por cada mil habitantes e como se pode verificar, o número é muito reduzido.
Para além de se decidir ter filhos cada vez mais tarde, os problemas de fertilidade são cada vez maiores assim como é maior a dificuldade em tomar uma decisão. As relações não têm a mesma estabilidade formal, reforçado pelo aumento do número de divórcios ou de famílias desestruturadas. 
 
A crise financeira faz temer o futuro e não facilita na hora de tomar a decisão de ter um filho ou repetir a experiência de ter mais filhos. De facto, Portugal não está neste momento a assegurar a substituição de gerações que só ocorre com uma média superior a 2 filhos por casal. Outra motivação que também tem surgido é um sentido de dificuldade em decidir trazer uma criança para um mundo tão desafiante.
 
Então, como decidir? O lado biológico ajuda: há efetivamente um relógio biológico que toca, tanto nos homens como nas mulheres e que nos urge a manter vivo o nosso ADN. É possível, isso sim, satisfazer a vontade biológica quando, com consciência e assertividade, podemos tomar a decisão firme de sermos pais. É preciso pesar muita coisa, quer na balança, quer na carteira. No entanto e remetendo para o relógio que teima em tocar, quando não queremos ter filhos, não é fácil desligar o alarme de algo que não temos acesso e que reside bem no interior do nosso corpo.
 
E como respeitar os que não querem ter filhos? Essa é a parte mais simples: respeitando. Alguém que decide não ser pai ou mãe tem esse poder de decisão, tem as suas motivações, das mais superficiais às mais profundas e, creio, nunca poderá ser intitulado de egoísta. Uma vez ouvi uma mulher dizer a outra: “uma mulher só é mulher depois de ser mãe”. Não há comentário mais injusto e errado do que este, principalmente quando é dito a alguém que na altura lutava com dificuldades em engravidar. 
 
Uma mulher é uma mulher. E pode ser mãe ou não. Como também pode ser costureira, piloto de aviões ou polícia. E é quando nos consciencializarmos que podemos ser tudo que vamos perder este medo de estar no nada.
 
Decidam em consciência e presença plenas aquilo que é num dado momento o melhor!

 
 
[1] A Taxa Bruta de Natalidade refere o número de nados-vivos ocorrido durante um determinado período de tempo, normalmente ano civil, referido à população média desse período.

Texto de Ana Caeiro, Psicoterapeuta Corporal em Biossíntese (ana.caeiro@mail.com)
Foto: Viktor Jakovlev, unsplash.com

8 de agosto de 2016

Dar a mão, deixar a mão


Quando uma criança está a aprender a andar, não podemos esperar que ande sozinha se lhe estivermos a segurar na mão. Assim é o caminho da terapia. E é este o caminho que poderíamos tomar nas nossas vidas e, principalmente, nas relações que temos.

Parece-me idílica a imagem de ajudar alguém a aprender a andar de bicicleta: Vamos deixando a nossa mão nas costas do novo ciclista e retiramos no momento certo. No momento certo para que o atleta ainda sinta o medo e a sua conquista. No momento certo para que ele sinta a transição. Naquele momento chave em que sabe que está por sua conta, mas que ainda está alguém lá atrás quem, embora não o toque nem vá evitar uma queda, o vai ajudar a levantar. O problema é encontrar o momento certo para largar.

Parece-me que esta imagem é rara. Penso nas mães com medo que não largam o ciclista. Lembro-me dos pais "ocupados" com outras tarefas e que não podem dar uma mão. E recordo que existem pessoas que não sabem viver sem esta mão dada.

E esta bicicleta ou estes passos, são a vida. E saber quando nos devemos afastar para que o outro aprenda a viver é fundamental. E difícil. Porque nestes momentos pensamos na mão que queríamos ter nas nossas costas.

Texto de Ana Caeiro
ana.caeiro@mail.com

Foto: Jenn Richarson, retirado de unsplah.com

3 de agosto de 2016

Holding


O Holding é um dos temas da Pós-Graduação em Psicoterapia Corporal em Biossíntese e a sua definição sugere apoio, sustentação e segurança. Quando nascemos precisamos ser vistos, tocados e necessitamos de nos sentir em segurança. A forma como fomos nutridos nesta fase inicial da vida é fundamental e pode trazer respostas para a forma como nos sentimos hoje. Como fui recebido pela minha família? Como fui visto e cuidado?

Os sentidos assumem uma grande importância nesta altura, pois é através deles que o bebé vai percepcionar o mundo. Quando nascemos já trazemos os cinco sentidos desenvolvidos e na audição, embora o bebé possa não perceber o que lhe é dito, a forma e o tom de tudo o que o circunda é muito importante. Ele sabe distinguir entre a voz meiga do cuidador ou uma voz irritada. E vai reagir a isso.

Imaginem então a importância do toque num corpo que passa por uma transição tão grande: estava numa bolha, num mundo aquático e vem para um local onde há luminosidade, roupas, barulhos estridentes. O toque acalma e o contacto da pele, corpo a corpo, é um grande recurso para o bebé aprender a confiar no mundo e a ser nutrido por ele. A visão é também uma forma muito forte de contacto. Dizem que o bebé quando nasce apenas consegue ver cerca de um palmo à frente do seu nariz, que será o suficiente para ver a cara da mãe enquanto se alimenta. O olhar que a mãe vai devolver ao bebé pode estruturá-lo se for um olhar "quente" que traz excitação e é expressão de amor. Se for um olhar frio, pode congelar o organismo e deixar o bebé perdido.

Será preciso ser um pai ou mãe (ou cuidador) suficientemente bom (como Winnicott dizia), para reconhecer, espelhar e ampliar o entusiasmo da criança, permitindo-a explorar o mundo através de uma comunicação aberta entre todos os elementos da família.
 
Texto de Ana Caeiro, Psicoterapeuta Corporal em Biossíntese
ana.caeiro@mail.com

Foto: Laura Lee Moreau - unsplash.com